Capítulo 01: A graça preciosa.
Definição de graça: Graça é um favor ou uma benevolência que não merecemos. Por isso a teologia apresenta a definição clássica de graça como “favor imerecido”. Isso quer dizer que a graça de Deus é algo que recebemos d’Ele sem que tivéssemos o direito de receber. Na verdade, o significado de graça só pode ser compreendido adequadamente à luz da obra de Cristo.
Neste primeiro capítulo estaremos analisando a graça de Deus sob dois pontos de vista, o primeiro será a graça barata e o segundo a graça preciosa. Sabemos que existem outras formas de estudarmos a graça de Deus, todavia nos dedicaremos a estudá-la na otica do autor desta obra.
Iniciamos com uma declaração violenta a cerca da graça barata, “a graça barata é inimiga mortal da nossa igreja”. O que será que o autor queria dizer com esta declaração? Será que ele está colocando em cheque os sacramentos da igreja, os fundamentos e as riquezas inesgotáveis da poderosa igreja de Cristo, que com mãos levianas tem governado a sociedade moderna, estabelecendo doutrinas e sistemas mundanos de controle humano?
Se faz necessário lembrarmos, que a proposta principal deste estudo é evidenciarmos a real necessidade da igreja se fundamentar no discipulado de Jesus Cristo, que para ser um cristão, primeiramente ele precisa ser um discípulo de Cristo, para então reconhecer na graça o seu verdadeiro valor. Dessa forma, saberemos que a graça de Deus não foi derramada sobre o homem apenas para justifica-ló do pecado, mas principalmente, para justificar o pecador, sendo portanto, o arrependimento genuíno, a única forma de acessa-lá.
Quando Jesus chama a Pedro para o discipulado, era para caminhar debaixo de uma graça preciosa que Ele o estava chamando. Pedro havia compreendido que a partir daquele momento um nível de renúncia muito maior estava lhe sendo proposto pelo mestre. Todavia, Pedro como precursor da igreja, estava dando início a expansão do cristianismo, como também, abriria espaço para a secularização do evangelho, através do ensino deturpado da graça barata, “o mundo estava cristianizado, e a graça tornou-se propriedade de um mundo cristão”.
Neste contexto, entra o nosso protagonista principal deste escrito, o grande reformador Martinho Lutero. Com a igreja passando por um período de reforma. Lutero descobre na vida monastérica uma possibilidade de viver na graça de Deus. Aquilo que pareceria um refúgio para viver o discipulado de Jesus, se tornou um problema, pois a reclusão no mosteiro, trouxe uma falsa demonstração de amor ao próximo, uma forma de privilégio clerical.
Lutero em fim foi alcançado pela graça preciosa, quando de maneira divina, compreendeu que precisava se expor para fora das paredes do monastério, para então viver a vida da sua comunidade de fé que estava sendo massacrada pela falta de um discipulado cristocêntrico. Lutero compreendeu que o chamado de Jesus ao discipulado não foi somente para um grupo especial de sacerdotes enclausurados nas suas denominações eclesiásticas, mas para todos os cristãos espalhadas pelas ruas, das cidades.
Para Lutero, a maior marca de um cristão que foi alcançado pela graça divina, é o fato dele ter ousadia para protestar, todas as vezes que o mundo tentar se interpor contra as leis de Deus. A graça preciosa não nos ausenta da obediência às leis de Deus, pelo contrário, nos faz críticos quanto as leis que o mundo tenta nos enquadrar. O que levou Lutero a abandonar a vida tranquila do mosteiro não foi a justificação do pecado, mas sim, a justificação do pecador, que verdadeiramente se arrependeu dos seus pecados e desci Diu ser um discípulo real de Cristo.
A graça preciosa surge como primícia de Deus para a humanidade, contudo a secularização e a sistematização da igreja, gerou aquilo que chamamos de graça barata ou hiper-graça, como contemporaneamente chamamos. A grande diferenciação entre a primeira e a última, talvez seja que, a primeira carrega consigo a essência do discipulado de Jesus, já a segunda, reputa a necessidade dele, porque compreende de forma banal a sua existência sobre. terra.
A vida no monastério permitiu que Lutero entendesse algumas dádivas de Deus, como por exemplo, que todo ser humano é pecador. Sendo assim, deveríamos pecar com toda a coragem que estivéssemos dispostos a nos arrepender e correr, constrangidos de volta, para os braços do Pai. Pois, existe afronta maior para a graça divina, que eu possa continuar pecando, sabendo que a graça barata estará sempre ali, disposta a nos reconectar a fonte do favor do Pai para as nossas vidas?
Nos chama a atenção a colocação do autor, que naquela época, já relata o colapso das igrejas organizadas como tal, na difícil tarefa em discipular seus fiéis ao discipulado pela renúncia ao mundanismo, praticando a graça preciosa como princípio de fé e não de barganha para com Deus. Se naquele época já era difícil, o que falar dos dias de hoje? A graça barata é muito cruel com a igreja nos dias atuais, onde tudo se tornou permissível, onde o dinheiro fala mais alto do que o coração generoso de muitos humildes irmãos.
Bem aventurados aqueles que estão dispostos a ser discipulados por Cristo Jesus, que não aboliu as leis, mas que de forma obediente, renunciou tudo, para nos ofertar a vida eterna. Que o Espírito Santo de Deus nos auxilie nesta caminhada de fé, nos suportando em amor e nos regenerando, sempre que estivermos sujeitos ao pecado. Que este tempo seja extremamente valioso, ao ponto de conseguirmos sobrepujar as dificuldades e experimentar um pouco mais dessa preciosa graça de vida.
Pastor Sênior da Comunidade Cristã MARALTO